quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Salvador e a Mentira

Osvaldo Campos Magalhães*
Os atos de violência e vandalismo perpetrados por marginais e até mesmo por uma pequena parcela de policiais militares transvestidos de bandidos, durante a greve da Polícia Militar na Bahia, levaram medo e pânico à indefesa população e provocou sérios prejuízos para o turismo, o comércio, a indústria e o setor de serviços em todo o estado.
Salvador, palco principal dos atos de vandalismo, assassinatos e terror, teve sua imagem seriamente maculada por uma exposição nacional na mídia impressa e televisiva, chegando ao ponto de o Departamento de Estado americano recomendar aos seus cidadãos que cancelassem viagens programadas à Bahia.
Entre as várias exposições negativas da imagem de Salvador veiculadas nacionalmente, chamou-me atenção o artigo de Gilberto Dimenstein, publicado no jornal Folha de São Paulo, com o provocativo e inadequado título, “Salvador é uma Mentira”.
No artigo, Dimenstein visou desmistificar a idílica imagem da cidade de Salvador. A cidade da Bahia, “terra da felicidade”, cantada por Caymmi, pintada por Carybé e fotografada por Pierre Verger, foi colocada em cheque pelo articulista da Folha. Além do lixo nas ruas, do aumento do roubo, da violência e morte na periferia de Salvador, destacou como pior sinal da decadência e transformação da nossa cidade a gigantesca fuga de cérebros para São Paulo e Rio de Janeiro, em áreas como publicidade, medicina e finanças.
Colocando a possibilidade de reversão do quadro de decadência, Dimenstein cita a recuperação vivenciada pelo Rio de Janeiro e, no caso da fuga de cérebros, o bem sucedido projeto desenvolvido em Recife, o Porto Digital, que vem possibilitando a Pernambuco exportar software e não seus talentos.
Apesar do título infeliz, pois Salvador não é uma mentira, como afirma o articulista, o artigo teve o mérito de colocar o dedo na ferida. Diversas manifestações contrárias ao artigo e a seu autor aparecerem nas novas mídias como facebook e twitter, mostrando que mesmo sabendo das mazelas que afligem nossa cidade, não aceitamos de bom grado as críticas de estranhos.
A questão de Salvador e da Mentira voltou à mídia impressa nacional com o instigante artigo escrito por Caetano Veloso, e publicado também em A Tarde, com o provocante título, “Mentira”.
Abordando o desconforto que os habitantes da cidade sentem em relação ao modo como ela vem sendo tratada pela prefeitura e pelo governo estadual, Caetano critica a legislação eleitoral que introduziu o mecanismo da reeleição e demonstra melancólico otimismo com a organização da sociedade civil soteropolitana e seu original movimento denominado sugestivamente pela palavra DESOCUPA.
Este ano de eleições municipais é um momento bastante propício para estabelecermos um grande debate sobre os problemas que afligem Salvador e, faz crescer ainda mais a nossa responsabilidade como eleitores e integrantes da sociedade civil soteropolitana.
Os últimos sete anos de uma desastrada administração municipal comprometeram seriamente a qualidade de vida na cidade e, além da violência e da fuga de cérebros, citados por Dimenstein, questões como mobilidade urbana, educação e desemprego devem merecer especial atenção. Que a população não se deixe enganar mais uma vez pela propaganda, pela demagogia e pela mentira. Como escreveu Caetano em seu artigo “o povo deve tornar-se progressivamente capaz de escolher por razões de confiança testável, seguindo ideais de melhoria na organização da vida, em vez de agir como um órfão que busca um novo pai”.
Conforme mencionado por Dimenstein em seu artigo, a recuperação econômica do Rio e as sensíveis melhorias da qualidade de vida e da autoestima na população carioca sinalizam um caminho para Salvador. É certo que a cidade do Rio de Janeiro foi beneficiada pelos grandes investimentos e atração de capital decorrentes da descoberta de petróleo em águas profundas do litoral carioca. Contudo, a recuperação da cidade do Rio de Janeiro decorreu principalmente da melhoria da gestão da cidade, tendo contado também com a efetiva ajuda dos governos estadual e federal.
Salvador precisa, mais do que nunca, de um verdadeiro gestor público, com experiência no executivo e capacidade de liderar uma efetiva transformação da cidade.
Chega de MENTIRAS!
* Osvaldo Campos Magalhães – Engenheiro e Mestre em Administração é editor do blog Pensando Salvador do Futuro - Foi candidato a vereador pelo PSB em 2008
E-mail: magalhães.oc@gmail.com

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