sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Eduardo Campos, presidente Nacional do PSB: "Meu partido tem um candidato que é o companheiro Ciro Gomes

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro - PSB, chega ao fim de 2009 no melhor dos mundos. Sua aprovação ultrapassa a barreira dos 80%, o estado cresce acima dos 3%, os investimentos chegam a R$ 1,8 bilhão — o triplo de 2006. Para completar, há uma série de obras para mostrar no ano que vem, quando será candidato à reeleição.
Do alto de quem comanda o PSB, ele avalia que a saída do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), da disputa presidencial dará a Ciro Gomes (PSB) e à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), a chance de ampliar seus palanques. Campos não cita Ciro como vice de Dilma e insiste que o caminho do PSB em 2010 será traçado em março “junto com o presidente Lula”. Mas não deixa de provocar o PMDB, ao avisar que não pretende opinar sobre o candidato a vice da chapa da petista: “Eles (os peemedebistas) estão lá numa aliança, e nossa aliança é com Lula. Não é com o PMDB, mas com o presidente Lula e com o PT. A relação do PT com o PMDB é um problema que cabe a eles. Todo mundo sabe que o PMDB é um partido que congrega uma federação de partidos na verdade. Tem uma geografia interna conhecida”, diz.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida aos Diários Associados, no Palácio das Princesas, sede do governo, em Recife.
Com o vento a favor Governador de Pernambuco aproveita a boa maré que vive no estado — política e economicamente — para insistir na tese de que a candidatura de Ciro é tão viável quanto a de Dilma e, de quebra, provocar o PMDB
Correio Braziliense: Como o senhor avalia o ano de 2009, considerado complexo para administração pública, em razão da crise econômica?
Eduardo Campos: O ano de 2009 foi extremamente desafiador para o mundo inteiro. Uma tremenda de uma crise econômica afetou o Brasil e as finanças públicas dos estados. E, depois, os remédios para sair da crise tiraram receitas dos estados, sobretudo dos que dependem mais da transferência da União. Mas nós estamos terminando bem. O Brasil claramente está saindo da crise. Aqui em Pernambuco nós conseguimos manter todos os investimentos.
CB: E não cortaram nada?
EC: Nós acrescentamos.
CB:Qual foi a mágica?
EC: A mágica foi gestão. Por ter começado em 2007, a estruturação de um modelo de gestão propiciou passar 2009 assim. Pernambuco teve muitos anos de desequilíbrio nas contas até 2006. Apresentamos um balanço de desequilíbrio consignado, a preço de hoje, de quase R$ 100 milhões. E tratamos em 2007 de equilibrar as contas, desenhar um planejamento em cima do programa de governo discutido com a sociedade e implantamos um modelo de gestão com 10 objetivos estratégicos. Entre eles o do equilíbrio fiscal. E fizemos um 2008 extraordinário do ponto de vista das finanças, onde conseguimos investir muito, mas também conseguimos fazer uma poupança, em maio, uma vez que a gente já previa os efeitos da crise. Isso permitiu que a gente entrasse em 2009 investindo no contra fluxo. Se você pegar o resultado do PIB em Pernambuco, são resultados extraordinários se comparados com o que está ocorrendo aí fora. Dentro do programa de gestão, ocorreu algum gargalo que pode ser melhorado em 2010. O que precisamos melhorar para 2010 é a arrecadação. E temos que fazer isso de maneira inteligente, sem aumentar tributos. Nos últimos anos, em Pernambuco, todos os governos — no que fui governo e no que fui oposição — aumentaram impostos. O nosso, em três anos, está só diminuindo. Acho que é preciso perceber que em 2010 nós vamos ter um país crescendo de maneira acelerada, com muitas obras. Nunca Pernambuco viu tanta obra sendo feita. É um momento mágico de Pernambuco.
CB: O fato de o presidente Lula ser de Pernambuco ajudou a consolidar esse quadro?
EC: Com certeza não atrapalha. Acho que não tem tempo bom para quem não sabe para onde quer ir. Na vida, muitas vezes você quer ajudar uma pessoa, mas não consegue porque ela não se deixa ajudar. O presidente Lula quer ajudar o Brasil, os estados, o Nordeste, em particular, o seu estado, que sempre teve o seu apoio, mas nós também ajudamos ele a ajudar Pernambuco. Fazendo parcerias corretas, no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Cuidamos de fazer os projetos, de ter disciplina nos prazos acertados. Isso efetivamente tem ajudado. Também tem uma coisa: a parceria é importante que se faça, mas é importante que se registre. Eu, aqui no estado, faço parceria com todos os prefeitos, seja de que partido for. Não existe esse processo da velha política da discriminação.
CB: Em um caderno de O Estado de São Paulo, recentemente, o senhor apareceu como uma espécie de porta voz do Nordeste. Isso já é uma plataforma para ser vice de Dilma ou para uma candidatura presidencial?
EC: De forma nenhuma. Primeiro, não sou porta voz de ninguém. Falo por mim. Na verdade, tenho participado ultimamente de muito debate para explicar o que está acontecendo no Nordeste. Penso como o mundo está para o Brasil nesse pós-crise. O Brasil sai dela mais fortalecido. Existe um olhar com muito mais atenção, menos caricato. Lá fora, está se conhecendo o Brasil como um lugar de um povo trabalhador, de um sistema de tecnologia ficando maduro. Essa mesma atenção que tem lá fora sobre o Brasil, dentro do país, tem sobre o Nordeste. O Nordeste que parecia ser um peso para o país, hoje é parte da solução do Brasil.
CB: O senhor não respondeu qual será seu plano de voo para 2010…
EC: Meu plano de voo para 2010 é em Pernambuco. Meu partido tem um candidato que é o companheiro Ciro Gomes. E nós estamos dentro do governo Lula e conversamos com o presidente para que possamos juntos encontrar a melhor estratégia para vencer as eleições de 2010. Na nossa opinião, e nós deixamos claro para o presidente, seria melhor se tivéssemos duas candidaturas. Até agora, as pesquisas e as tendências estão nesse estágio
CB: Não passa para o eleitor que o PSB está numa posição dúbia quando, na condição de aliado de Lula, apresenta outro candidato para concorrer à Presidência?
EC: Não tem dubiedade nenhuma. Isso foi acordado e conversado com o presidente. Em Pernambuco, por exemplo, nós convivemos com uma eleição (de 2006) em que o presidente Lula teve duas candidaturas de companheiros dele. Fizemos vários atos juntos e hoje estamos governando juntos.
CB: A candidatura de Ciro não gera um problema até aqui em Pernambuco?
EC: Pode vir o PT e dizer que quer um palanque só para Dilma?
CB: Tem ainda o Rio Grande do Norte e o Ceará. Isso não pode dar confusão?
EC: Não, de forma nenhuma. O PSB é governo no Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Nos três estados, na eleição passada, apoiamos para a prefeitura da capital companheiros do PT. Temos cinco governos do PT do qual o PSB participa. Num deles, inclusive, passaremos a governar, caso o governador Wellington (Dias, do Piauí) se desincompatibilize para disputar o Senado, que é a maior possibilidade. Temos aliança com o PT que não é eleitoral, é política. Com as nossas diferenças, mas sobretudo com a grande unidade de ajudar o presidente Lula a fazer mudanças no governo, como ele tem demonstrado. Temos uma visão sobre o processo de 2010 que foi colocada na mesa com o presidente Lula diversas vezes e na última reunião estávamos eu, Ciro, Lula, a ministra Dilma, o presidente do PT (Ricardo Berzoini). Conversamos de forma muito clara. Entendemos que o projeto iniciado pelo presidente Lula deve continuar e ser aprofundado. Essas mudanças precisam ser consolidadas. Entendemos naquele aquele momento, de levantamento inclusive de pesquisas que foram feitas, que a melhor tática seria o lançamento de duas candidaturas. O que ficou combinado é que iríamos prosseguir no debate até março, porque para uma candidatura à Presidência da República, temos um grande nome que é sério, honrado, competente, não temos é um partido com musculatura para sozinho segurar a campanha. As alianças regionais são feitas regionalmente. Elas não serão desfeitas por questões nacionais. Onde tem problema do PSB com o PT vai ter uma ou duas candidaturas.
CB: Ainda não está provado que uma só candidatura presidencial resolve?
EC: Não está. Pelo contrário, na hora em que Ciro foi recolocado na condição de candidato, você viu que o campo da oposição foi diminuindo e o campo de sustentação do governo Lula foi aumentando. Isso é um fato.
CB: E o governador de Minas, Aécio Neves? Como o senhor avalia a saída de Aécio da disputa presidencial?
EC: Como um fato determinado pelas circunstâncias políticas. Aécio desistiu porque foi o que lhe restou fazer. Ele foi levado a isso pelo processo. Como ele era um candidato mais amplo, que alargava mais a base da oposição, sua saída da disputa favorece as candidaturas do campo governista.
CB: Qual o impacto para a candidatura de Ciro? Ele pode ser vice de Dilma?
EC:Como Aécio era um candidato que ampliava mais, sua saída obviamente amplia os espaços tanto para Ciro quanto para Dilma. Mas não define nada. A definição sobre a candidatura do companheiro Ciro Gomes será tomada com o presidente Lula, lá para março do ano que vem.
CB: O debate sobre a sucessão presidencial começou aqui em Pernambuco?
EC: De fato, o calendário nacional foi aberto antes. Quem comanda a sucessão nacional é o presidente da República. Ele abriu o debate sucessório e aí todo mundo foi se posicionar. Aqui nós entendemos o contrário. Não estamos abrindo o debate sucessório. Ele será aberto mais adiante. É óbvio que quando formos decidir a chapa em Pernambuco, o presidente será ouvido. Afinal de contas, ele é pernambucano.
CB: O presidente não só abriu o debate sucessório, como pediu uma lista tríplice ao PMDB. Isso deixou os peemedebistas irritados. O senhor acha que essa aliança com o PMDB é para valer, será possível? OPMDB indicará o vice?
EC: Aí é uma coisa da relação do PT com o PMDB.
CB: Mas o PSB não será chamado a opinar já que faz parte dessa ampla aliança?EC: Não. Eles estão lá numa aliança e nossa aliança é com Lula. Não é com o PMDB, mas com o presidente Lula e com o PT. A relação do PT com o PMDB é um problema que cabe a eles. Todo mundo sabe que o PMDB é um partido que congrega uma federação de partidos na verdade. Tem uma geografia interna conhecida.
CB: A ministra Dilma já disse em conversas reservadas que o senhor seria o vice dos sonhos, em vez do PMDB…
EC: Nossa decisão, eu já disse isso, é de que em 2010 estarei em Pernambuco para o nosso debate em Pernambuco. Não tem como ser diferente.
CB: Mas o senhor tem pretensões de chegar a uma candidatura presidencial?
EC: Minha pretensão, por enquanto, é de terminar 2009. Cada coisa a seu tempo. Agora, é tempo de fechar o ano de 2009. Há um ditado popular no Nordeste e em Pernambuco que eu costumo usar sempre: não vamos colocar o carro diante dos bois. Vamos discutir a eleição de 2010 no tempo certo, sem açodamento.
CB: O pré-sal ficou para o ano que vem. O senhor foi um dos precursores dessa ideia de distribuir os recursos das áreas já concedidas. O senhor vai voltar a Brasília em fevereiro para aprovar uma emenda que permita distribuir ainda mais os recursos das áreas já licitadas? Afinal, está satisfeito com o relatório?
EC: Isso é um processo. O que vivemos na Câmara foi extremamente positivo e vamos viver no Senado também. O pré-sal é uma coisa boa. Não podemos fazer do pré-sal uma coisa ruim. É uma descoberta, uma riqueza. Precisa ser bem aproveitada pelo país. Um país que ganha o relevo que o Brasil está ganhando não pode conviver com tantos desequilíbrios. Tem que cuidar do desequilíbrio social e do regional. Não podemos fazer do pré-sal um elemento para reforçar o desequilíbrio.
CB: Como?
EC: Queremos corrigir um erro da Lei do Petróleo que, quando tratou da partilha (dos royalties), excluiu 24 estados e quase cinco mil municípios. Não estamos fazendo um debate do velho regionalismo. Queremos ter uma visão nacional. O petróleo é do país. Qual é a diferença de cidadania e de direitos de um pernambucano e de um carioca? Todos nós somos brasileiros, precisamos ter educação, empregabilidade, saúde pública, ciência e tecnologia. A nossa proposta é de consenso e de razoabilidade. Não é de confrontação. Por isso estamos ganhando. Ganhamos na opinião pública e vamos ganhar no Congresso.
CB: Isso não pode influenciar 2010? O governador Sérgio Cabral considera que o Rio de Janeiro está sendo roubado, já começa a olhar meio desconfiado para a aliança com a ministra Dilma, o presidente Lula não pode lhe chamar e dizer “Ô, governador, deixe de criar problema para aprovar o pré-sal…”?
EC: Essa não é uma questão para ser tratada de forma partidária, eleitoral. É uma questão nacional, um tema importante, federativo, que reúne pessoas dos mais diversos partidos. Aqui mesmo, em Pernambuco, reunimos toda a bancada, governo e oposição, numa ação suprapartidária.

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