segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Comentários de Domingos Leonelli sobre o desempenho do PSB na campanha eleitoral de 2010



O PSB da Bahia saiu vitorioso e mais forte das últimas eleições com a conquista do mandato da primeira Senadora da Bahia, nossa companheira Lídice da Mata. Sofreu, no entanto, derrotas sérias sobre as quais precisamos refletir. Analisar essas derrotas e extrair delas as lições para o futuro.
Penso que a melhor maneira de agradecer o apoio que recebi, cuja maior expressão foram os mais de 50.000 votos livres e conscientes, de reconhecer a importância das nossas candidaturas a deputado estadual e também às outras candidaturas a deputado federal é repassar, ainda à quente minhas primeiras percepções abrindo um debate no partido capaz de transformar experiências vividas em aprendizado e em práxis política.
O PSB e o quadro geral
O PSB está inserido num contexto de avanço geral das forças políticas que se caracterizavam como esquerda brasileira, sob a hegemonia do PT.
Essas forças que já haviam ganhado as eleições nacionais de 2002 com a candidatura de Lula à presidência da República, reproduziram aqui na Bahia com Wagner à frente, o projeto de avanço e inclusão social que Emiliano José chama de " revolução democrática".
A força hegemônica (o PT) e seus aliados (inclusive nós do PSB) à esquerda e ao centro fizeram a Bahia avançar em quase todas as áreas. Mas, de maneira geral, adaptaram-se eficientemente ao modelo político que resultou desse avanço.Uma transição com métodos e discursos modernos e também algumas práticas anti gas.
Esse paradoxo entre modernidade e conservadorismo, ainda que inevitável, nos períodos de transição (no caso da Bahia transição do carlismo para a esquerda) são agravados pela fragilidade legislativa dos novos governos. Tanto o de Lula como o de Wagner.
O fato é que ao lado da conquista do voto de opinião dos cidadãos principalmente para a chamada chapa majoritária - governador, vice, senadores - verificou-se, também, a cooptação de lideranças políticas e a utilização de pesados recursos financeiros na campanha proporcional.
Ficou pouco espaço para a conquista tradicional de votos (para a esquerda) via apresentação de bom desempenho nas funções públicas, coerência e história dos candidatos proporcionais. Prevaleceu o uso das máquinas (sindicais, oficiais e religiosas) e o dinheiro para atender as exigências dos antigos cabos eleitorais que agora se autodenominaram de "lideranças" e precisam remunerar pessoal para distribuir panfletos; transportes pessoais e outros etcetaras. E nos grandes centros, as curtas aparições de proporcionais na TV (os candidatos a deputado apareciam em programas temáticos) foram substituídas pelas milionárias produções de placas, cartazes e pinturas.
Sob o manto da enorme popularidade de Lula - justíssima- constataram-se as práticas políticas mais antigas, algumas estranhas à história do nosso grande presidente.
Por outro lado, a realização conjunta de eleições proporcionais e majoritárias reduz enormemente a presença, a importância e a relevância para o eleitor das candidaturas a deputado estadual, deputado federal e vereadores.O principal esforço de inteligência nos meios de comunicação, na forma física de campanha (carreatas, comícios, caminhadas) tudo converge quase que exclusivamente para a campanha de Presidente, Governador, de Prefeito e de Senador ou Senadores.
Assim é que se desenhou um quadro merecedor de reflexão: enquanto as campanhas majoritárias possibilitaram ao eleitor uma escolha consciente, uma avaliação minimamente racional e um volume de informações (ainda que tratada pela publicidade) bastante razoável, a disputa pelo voto de deputados era um verdadeiro "pega pra capar" fisiológico e financeiro.
A hipocrisia da legislação eleitoral que proíbe bottons, camisas, out-door, showmício, mas permite contratação de pessoal, acaba por valorizar ainda mais a travestida compra de votos disfarçada de contrato de trabalho com panfleteiros e prestadores de "serviços". Enquanto alguns candidatos contratavam apenas algumas dezenas de pessoas que realmente se limitavam a distribuir panfletos, dirigir carros e trabalhar na campanha, outros incorporavam muitos milhares de "militantes profissionais" obviamente em troca do voto dos mesmos.
E se considerarmos que apesar dos 14 milhões de empregos gerados no Governo Lula, apesar de programas como Bolsa Família, Água para Todos, Luz para Todos, Pronaf, Minha Casa Minha Vida, e tantos outros, ainda temos legiões de jovens desempregados nos bairros das grandes cidades, milhares de ruas com esgoto a céu aberto, milhões de pessoas morando miseravelmente, centenas de milhares de garotos e garotas viciados em crack ou cooptados pelo tráfico, a força do "trabalho" temporário desses jovens para campanha eleitorais ou a troca do voto por benefícios mínimos realizados pelos poderes públicos, ganham uma relevância decisiva.
Claro que cabem as perguntas obvias: - você não sabia disso, antes? Não são essas as regras do jogo? Porque então, entrou na disputa? A resposta não é fácil e talvez corresponda a um conjunto de elementos tido para muitos como subjetivo e inconsistente: esperança. E além da esperança o cumprimento de deveres partidários, a ingênua vaidade oriunda da força moral, talvez uma certa ilusão ideológica. Mas, acima de tudo, no erro de avaliação da realidade concreta.
Para nós do PSB vale a pena analisar alguns outros fatores, erros e acertos que em minha opinião contribuíram para a grande vitória da eleição de Lídice, para a perda da nossa cadeira na Câmara Federal e para nosso fraco desempenho para a Assembléia Legislativa.
Acertos:
1) a decisão, difícil à época de compreender, da candidatura de Lídice a Vice de Pinheiro, mesmo quando ela possuía 12% da preferência nas pesquisas contra apenas 2% de Pinheiro. Avaliamos corretamente que não tínhamos estrutura partidária e recursos materiais para sustentar uma candidatura própria a Prefeitura de Salvador para disputar com João Henrique, ACM Neto e a candidatura do PT. Diferentemente de 2004 quando não estávamos no Governo e tivemos o apoio do PMDB.
2) O apoio a administração do Governador Jaques Wagner, tanto no terreno político como na área administrativa, contribuindo,especialmente na área do turismo, para o sucesso do seu governo.
3) A ascenção de Lídice à coordenação da Bancada Federal, ajudando a obtenção de recursos para a Bahia.
4) O afastamento do grupo interno do PSB comprometido com a candidatura do ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Erros, Equívocos e Ônus
1) Indefinição há 2 anos atrás de candidatos a deputado federal que pudessem substituir Lídice na hipótese de sua candidatura ao Senado. (vale registrar que dentre os candidatos eleitos, praticamente todos eram candidatos há 4 anos)
2) Excessiva tolerância interna com prefeitos, vereadores e dirigentes partidários sem compromisso político e ideológico com o projeto socialista e nem mesmo com a fidelidade partidária eleitoral.
3) Indefinição de candidatos a deputado estadual com pelo menos 2 ou 3 anos de antecedência.
4) Avaliação equivocada da necessidade de recursos financeiros para uma campanha eleitoral nos dias de hoje e da realidade política vigente.
5) Cumprimento excessivamente rigoroso da orientação geral do governo, não vinculando em nenhum momento nossa presença na Secretaria de Turismo a qualquer tipo de contrapartida político-eleitoral.
6) Erro de avaliação e timidez na definição pela nossa participação no chamado "chapão" - para deputado federal, ao invés de concorrer com chapa própria. Chegamos a 163.000 votos socialistas com a soma dos votos nominais e os votos de legenda. E tudo indica que se tivéssemos programa de TV próprio do PSB chegaríamos aos 180.000 votos do coeficiente e hoje teríamos um federal e um suplente do Partido. (O PSDB fez essa opção, correu o risco e teve sucesso)
7) E, além disso, definida a participação no chapão não realizamos esforços para convencer os companheiros sobre a necessidade de concentrar os esforços sobre uma única candidatura a deputado federal.
8) Considerando a necessidade de atender à demanda oriunda de nossa participação na chapa majoritária, também não conseguimos estabelecer uma política de concentração de esforços sobre alguns candidatos a deputado estadual levando em conta os candidatos mais expressivos do PSL.
9) Também em conseqüência de nossa participação na chapa majoritária não conseguimos que a resolução do Diretório Nacional determinando a obrigatoriedade do voto de prefeitos, vereadores, dirigentes partidários, candidatos, para nossas candidaturas a deputado federal fosse efetivamente cumprida. Resta-nos agora apenas o cumprimento da mesma pela negação da legenda partidária aos não cumpridores da resolução.
10) E novamente em conseqüência de nossa participação na chapa majoritária aceitamos um formato de programa eleitoral de TV e rádios que embora tecnicamente bem feito, reduzia fortemente a aparição de candidatos com projeção na sociedade, facilitando aqueles menos conhecidos porem fortemente lastreados em máquinas oficiais, sindicais e religiosas.
E finalmente, sentimos na campanha, os reflexos de um problema estrutural do nosso partido: a insuficiência de quadros políticos e administrativos. O envolvimento de nossos maiores dirigentes nas esferas do executivo e nos legislativos, deixou-nos sem o número suficiente de assistentes e dirigentes aos nossos núcleos, diretórios municipais, diretórios zonais e comissões provisórias dos municípios. Em resumo a função definida como direção política não se realizou plenamente antes, durante e depois das eleições.
As reflexões acima constituem-se no meu ponto de vista estritamente pessoal sem nenhuma discussão com a Direção Estadual, candidatos e outras instâncias partidárias. É apenas um ponto de partida e uma contribuição pessoal, repito, para uma discussão mais ampla e sistematizada.
Saudações socialistas, Domingos Leonelli

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