quinta-feira, 16 de julho de 2009

SÃO JOÃO DA BAHIA: REMINISCÊNCIAS. E O FUTURO?

Laudelino Souza da Conceição (Lau) é vereador da capital pelo PSB
Apesar de ser soteropolitano e ter os pés bem fincados aqui, em Salvador, de onde nunca manifestei o desejo de sair, exceto quando, sazonalmente, o trabalho me impõe tal necessidade, acontece que, como o pessoal da zona rural de nosso estado, gosto muito dos folguedos juninos. Embora não sendo exímio dançarino de forró e de outros gêneros, gosto de ouvir e de apreciar quem dança com exuberância, pois, caso um dia, tomado pela travessura de cair no forró, após os primeiros segundos de sacolejos, a minha dama certamente irá à delegacia mais próxima denunciar-me por crime de lesões corporais, afinal, de tanto pisotear os seus pés, não lhe restará uma só unha. É coisa de cintura dura. Assim me considero. Mas, no meu canto e de sorriso largo, curto o São João e o autêntico pé-de-serra. O São João já teve seus áureos momentos aqui em Salvador, principalmente nos bairros populares. Que bem o digam os moradores do bairro de Pau Miúdo, onde, até o início da década de 90, o movimento das quadrilhas juninas, capitaneado pelo saudoso José Lima, grande entusiasta dos festejos de São João, dava o tom da festa. Anariê, Forró do ABC, Balão Beijo, Fogaréu, Santa Fé e Esperança. Anariê! E a festa tinha o seu ponto alto no grande concurso de quadrilhas e sambas juninos, que perdurava por três dias consecutivos, transformando a Rua 20 de Agosto num grande "arraiá". Ao falar das reminiscências do São João, lembro-me da minha infância e adolescência aqui no Pau Miúdo, bairro da periferia em que, até meados dos anos 60, a sua principal rua não era asfaltada (Rua Marquês de Maricá), e as outras secundárias com suas ladeiras e escadarias íngremes e de terra batida, no mês de junho os seus moradores, assim como eu, éramos tomados, arrebatados pelo lúdico sentimento junino evidenciado nas bandeirolas que enfeitavam as casas ruas e vielas da comunidade. E, à noite, as mesas das humildes habitações eram ocupadas pelas iguarias da época para recepcionar quem chegasse querendo beber um licor de jenipapo caseiro ou beliscar um amendoim pegado no sal. Quem não estivesse trajando uma calça Farowest, camisa quadriculada com um chapéu de palha, principalmente os homens, não estava no clima do São João. Sem falar que os mesmos deveriam estar calçados com tamancos ou em sapatos tipo Conga Sete Vidas. São essas algumas das saudosas lembranças dos festejos juninos do bairro de Pau Miúdo, quando as trezenas de Santo Antônio, nas noites frias do mês de junho, e o forte cheiro de jenipapo cozido com cravo e canela, impregnado na atmosfera dos becos e vielas da localidade, anunciavam que São João estava chegando. São João. Tradição ou tradução? Segundo estudiosos da antropologia cultural, a tradição sucumbe com mais facilidade ante a ação do processo de aculturação e tende a desaparecer. A tradução, mesmo com as circunstâncias da adversidade cultural, mantém os principais traços da essência cultural e adéqua-se às metamorfoses ancoradas no tempo e espaço contemporâneos. É inegável que o São João da Bahia, o mais novo produto turístico do nosso estado, em suas duas edições, vem se mostrando como vigoroso vetor de sedimentação cultural e fomentador de emprego e renda durante o período da baixa estação. Tenho acompanhado o intenso trabalho do Secretário de Turismo do Estado da Bahia para universalizar as ações do turismo, descentralizando-o e materializando sua operacionalidade em todo estado. O investimento, este ano, de dez milhões de reais no projeto São João da Bahia evidencia a justa decisão governamental. Louvo a iniciativa de fortalecer a manifestação junina na capital com a boa estrutura disponibilizada para a população soteropolitana e outrem no Pelourinho e Terreiro de Jesus, porém ainda há a necessidade de investimentos nos festejos dos bairros da nossa periferia, onde outrora inúmeras quadrilhas juninas e grupos de samba junino se apresentavam nos bairros de Engenho Velho de Brotas, Pau Miúdo, Brotas e Capelinha de São Caetano. Como apreciador dessa exuberante manifestação cultural das nossas raízes, sobre o São João, hoje, no exercício do labor legislativo na Câmara Municipal de Salvador, apresentei o Projeto de Indicação Nº 111/07, que propõe a realização do concurso de quadrilhas na rede municipal de ensino como forma de inserir os nossos educandos no contexto cultural da nossa sociedade. O São João, no seu aspecto lúdico e cultural é belo e, como tem demonstrado, movimenta os diversos segmentos da nossa economia. Mas precisamos ousar mais. Precisamos ampliar a alvissareira proposta do secretário Domingos Leonelli de realizar 30 dias de forró no Parque de Exposições para os moradores dos bairros populares; precisamos incluir a Feira de São Joaquim na programação junina, pois ali cabe a realização do Forró da Feira, num ocioso espaço da Codeba, durante a semana que antecede os folguedos juninos. Assim, aduzo as minhas impressões na crença de que, ao lado do carnaval, o nosso São João já desponta como um forte atrativo turístico verossímil à festa de momo.

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