quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dois de Julho, a Independência da Bahia e do Brasil.


Quando Dom Pedro gritou “Independência ou Morte”, erguendo sua espada às margens do Rio Ipiranga, o Brasil comemorou o fim dos laços que o prendiam a Portugal. Porém, a Bahia, justamente onde o Brasil foi descoberto, permaneceu presa às amarras da ocupação. Somente 10 meses após a independência do Brasil, o povo baiano pôde comemorar, de fato, a conquista da sua aspirada liberdade.
A independência do Brasil começou na Bahia.

Em Santo Amaro e Cachoeira, as duas principais cidades do Recôncavo, aconteceram importantes episódios históricos vinculados ao processo da Independência da Bahia. Coube ao Senado da Câmara de Santo Amaro, em 14 de junho de 1822, reunir-se e decidir que o Brasil deveria ter um centro único de Poder Executivo, segundo regras de uma constituição liberal e ter direito a exército e marinha sob a autoridade do Príncipe Regente. Também a Câmara de Cachoeira, em 25 de junho 1822, proclamou o Príncipe Regente “defensor e protetor deste Reino do Brasil”. Esses atos e manifestações marcaram a adesão da Bahia ao movimento pela independência, que tomaram impulso no sul do país.
Independência do Brasil: o princípio de tudo, mas não o fim.

Em janeiro de 1822, Dom Pedro, então Príncipe Regente, negou obediência às cortes de Lisboa, recusando a ordem de regressar a Portugal. Com essa decisão, Dom Pedro se tornou o ponto de apoio para o movimento de independência do Brasil. Nessa mesma época, devido aos conflitos entre brasileiros e portugueses que estavam ocorrendo na Bahia, Portugal nomeou oficiais portugueses para o Comando das Armas, visando manter o controle sobre o norte do país. Assim, o oficial brasileiro, brigadeiro Manoel Pedro de Freitas Guimarães, foi substituído pelo brigadeiro português, Inácio Madeira de Melo.
O levante de soldados: luta armada para defender Salvador.

A substituição do oficial brasileiro gerou protestos na população e na Câmara, que recusou a dar posse ao militar português, resultando em uma luta armada. No dia 18 de fevereiro, marinheiros portugueses cercaram e tomaram o Forte de São Pedro e o quartel da Mouraria, onde se concentravam os militares brasileiros. Sendo superiores em número e armamento, eles logo dominaram a cidade e cometeram absurdos, culminando com o assassinato de Soror Joana Angélica, no Convento da Lapa, onde também feriram o Padre Daniel da Silva Lisboa, capelão do Convento.Os baianos não aceitaram a perda da cidade. Militares brasileiros saíram do Forte de São Pedro e armaram guerrilhas nas matas, desde Brotas até a Fazenda Garcia. Militares, civis e famílias inteiras refugiaram-se no Recôncavo.A Guerra da Independência da Bahia tornou-se uma oposição entre Salvador, com os comerciantes portugueses ligados às cortes de Lisboa, e o Recôncavo, centro de articulação das forças nacionais, com os senhores de engenho radicados na terra e lutando por ela.
A jovem heroína Maria Quitéria.

No Recôncavo baiano surgiram milícias e grupos de voluntários, armados e mantidos pelos senhores de engenho. Foi nesse cenário que Maria Quitéria, uma jovem dos arredores de Feira de Santana, desobedeceu a seu pai para unir-se à luta no Batalhão dos Periquitos. Com os cabelos cortados e vestindo-se como um homem, fugiu de casa e dirigiu-se à vila de Cachoeira, onde se alistou sob o nome de Medeiros. Ao ser descoberta pelo pai, duas semanas depois, foi defendida Major José Antônio da Silva Castro, avô do poeta Castro Alves. Maria Quitéria foi incorporada a esta tropa, pois tinha facilidade no manejo das armas e reconhecida disciplina militar. A jovem participou de importantes defesas, atacou trincheiras, comandou grupos femininos e fez prisioneiros. Por seus atos de bravura em combate, o General Pedro Labatut conferiu-lhe as honras de 1º Cadete. No dia 20 de agosto foi recebida no Rio de Janeiro pelo Imperador em pessoa, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro, no grau de Cavaleiro.
O corneteiro Luís Lopes

Ao saber dos acontecimentos na Bahia, o Príncipe decidiu enviar um reforço militar. Em outubro de 1822, já após a proclamação da Independência do Brasil em São Paulo, chegou à Bahia o militar francês Pedro Labatut, para dirigir a campanha de libertação. Labatut sitiou a cidade de Salvador, com três centros de comando: Pirajá, Cabula e Itapuã. Portugal enviou reforços a Madeira de Melo, que atacou Pirajá e rompeu a linha de defesa dos brasileiros em um combate considerado o maior de todo conflito. Ao pressentir a derrota total, o comandante brasileiro ordenou tocar retirada. O corneteiro Luís Lopes, porém, tocou “Avançar cavalaria e degolar”, surpreendendo os portugueses. Os brasileiros aproveitaram a situação e lançaram uma contra-ofensiva, diante da qual os inimigos simplesmente largaram as armas e fugiram apavorados
Dois de julho: a independência definitiva do Brasil.

Em janeiro de 1823, Labatut foi preso e enviado para o Rio de Janeiro, pois suas decisões eram consideradas arbitrárias e ditatoriais. Para substituí-lo foi escolhido José Joaquim de Lima e Silva, que manteve a mesma tática de guerrilha, com o apoio da esquadra de Lord Cochrane, fazendo o cerco marítimo. No final de junho, começou o avanço para a vitória brasileira. No dia dois de julho, o Exército Libertador entrou triunfante na cidade do Salvador, sob o comando do General Lima e Silva. Maria Quitéria foi saudada e homenageada pela população em festa. O governo da Província dera-lhe o direito de portar espada e, na condição de Cadete, ela usava uniforme de cor azul, com saiote e capacete com penacho.
No dia 7 de setembro de 1822, dom Pedro I proclamou a independência em uma viagem de volta de Santos para São Paulo. Esse dia é considerado a data da emancipação do Brasil como nação, o dia da Independência. Entretanto, durante algum tempo ocorreram lutas em diversos pontos do território brasileiro contra tropas portuguesas, que defendiam a continuidade da dominação de Portugal sobre o Brasil. Essas lutas pela consolidação da independência prolongaram-se do final de 1822 ao final de 1823. Além do Rio de Janeiro, estenderam-se pelas províncias da Bahia (até julho de 1823), Pará (outubro de 1823), Maranhão, Piauí, Ceará (agosto de 1823) e Cisplatina, pois nessas províncias o contingente das tropas portuguesas era grande.
A libertação de Salvador do domínio de tropas portuguesas foi longa e difícil. Na realidade, as lutas contra as forças portuguesas do brigadeiro Madeira de Melo, a mais alta autoridade militar da província, começaram a crescer desde 1820. Com a independência proclamada por dom Pedro, os conflitos aumentaram.
Salvador: foco de resistência portuguesa
Portugal desejava fazer de Salvador um foco de resistência à independência da Colônia. No início de 1823, tropas portuguesas chegaram a Salvador para reforçar os contingentes da Metrópole. As tropas brasileiras de Manuel Pedro, que havia sido nomeado por dom Pedro para a mesma função de Madeira de Melo, foram derrotadas. Diante da derrota, recuaram para o Recôncavo Baiano, pois os habitantes dessa região eram os maiores defensores da independência.
A partir de então começou o cerco a Salvador, onde concentravam-se os militares e os comerciantes portugueses. Cercada, a cidade ficou incomunicável, sem alimentos e munição. Madeira de Melo pediu ajuda a Portugal e dom Pedro envia o general Labatut para reforçar as tropas brasileiras. As entradas de Salvador ficaram praticamente interditadas pelas forças que defendiam a independência. Madeira de Melo não tem outra alternativa a não ser ir para o ataque. No dia 8 de novembro de 1822, trava-se em Pirajá uma das batalhas mais duras e violentas da libertação da Bahia e Madeira de Melo teve de recuar.
Nos primeiros meses de 1823, a situação de Salvador deteriorou muito. Sem alimentos, as doenças matavam cada vez mais pessoas. Diante dessa situação, o chefe português permite a saída dos moradores de Salvador e cerca de 10 mil pessoas deixam a capital da província. Em fins de maio, uma nova frota brasileira comandada pelo inglês lord Cochrane chega a Salvador. Vendo que era inútil a resistência, as tropas portuguesas se rendem.
O mês de julho começa com o embarque dos portugueses. No dia 2, o Exército brasileiro entra vitorioso em Salvador.
As guerras de independência, em especial a que se travou na Bahia, revelam um aspecto importante no processo da emancipação política do Brasil, muitas vezes pouco valorizado em nossos estudos históricos: a independência enfrentou uma questão militar. E como o Brasil não tinha uma estrutura militar adequada às necessidades de seu imenso território, precisou lançar mão de tropas mercenárias, comandadas por oficiais estrangeiros.
Recôncavo Baiano
Recôncavo Baiano é a área situada em torno da baía de Todos os Santos. Era uma região rica, com muitos engenhos de açúcar, povoados e vilas.
Os habitantes das vilas e povoados do Recôncavo Baiano eram na maioria defensores da Independência. Proprietários ricos logo começaram a organizar batalhões patrióticos de mulatos e negros para lutar contra os portugueses. E muitas Câmaras Municipais decidiram desafiar as ordens de Madeira de Melo, aclamando oficialmente dom Pedro como imperador e Defensor Perpétuo do Brasil.
Da união entre os soldados da capital e do interior nasceu o Exército Patriótico, forte e combativo. Sua combatividade ficaria ainda maior com os reforços enviados de outras províncias, principalmente Pernambuco.
A 22 de setembro de 1822, anuciou-se a ruptura definitiva: a Câmara de Cachoeira instalou na cidade um governo paralelo, o Conselho Interino do governo da província da Bahia. A situação se invertia. Agora era o interior que governava, preparando-se para retomar a capital.


Bibliografia consultada:Brasil, História e Sociedade, de Francisco M. P. Teixeira. São Paulo, Ática, 2000.As guerras da independência, de Arlenice Almeida da Silva. São Paulo, Ática, 1995.

Um comentário:

  1. Gostaria parabenizar o deputado Capitão Tadeu, pela bela iniciativa levada ao cortejo do 2 de Julho. Criatividade e uma postura de iniciativa, é isso que nosso PSB precisa pra prefeitura ano que vem. Sem mais.

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