segunda-feira, 11 de maio de 2009

Artigo de Lídice presta homenagem a Augusto Boal

Augusto Boal certamente assegurou para si uma página bastante significativa na história da cultura mundial do século XX. Na história do teatro brasileiro, em particular, foi expressão singular e seu trabalho se eleva como um marco de integridade, criatividade e compromisso para com o seu povo.O eloquente silêncio da grande mídia sobre a vida e a obra desse grande artista dos oprimidos do mundo nunca diminuiu o alcance, a qualidade e a profundidade de sua fértil produção.E resgatar sua memória, muito mais do que uma homenagem pessoal, é na verdade um resgate de nossa própria memória coletiva, da longa história de lutas de nosso povo por um Brasil mais justo e mais humano.Integrante do Teatro de Arena de São Paulo, em 1956, trouxe a esse grupo de vanguarda do nosso teatro, os conhecimentos aprendidos, de encenação e dramaturgia, em uma breve temporada nos Estados Unidos. No Arena, com José Renato, Vianinha e Guarnieri, participou da grande renovação temática de nossa cena teatral, a tentativa de trazer a voz das camadas populares para o protagonismo de nossa cena teatral.Segue-se a longa noite da ditadura militar e Boal participa ativamente da resistência democrática na trincheira do nosso teatro. Com o CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE, colocado na ilegalidade, dirige no Rio de Janeiro o antológico show Opinião que promoveria o reencontro da classe média urbana carioca “bossanovista” com a cultura popular, o samba das favelas e o baião nordestino. Será em terras estrangeiras, exilado, que Augusto Boal consolidará seu longo aprendizado resumido no livro de repercussão mundial, hoje traduzido em 20 idiomas, denominado Teatro do Oprimido. E acaba por merecer o reconhecimento da crítica e dos teatrólogos internacionais antes mesmo de conseguir, com a anistia no início dos anos 80, retornar ao seu País. O que propõe Augusto Boal significa uma radical mudança no conceito tradicional de teatro. Para ele o palco é qualquer lugar que reúna gente de forma livre e criativa. E o desenrolar da trama cênica envolve igualmente como sujeitos ativos atores e plateia, todos cidadãos que visam encontrar caminhos e ideias para transformar o mundo.Ainda sem ter merecido o devido reconhecimento de seus conterrâneos, foi distinguido pela Unesco com a nomeação de embaixador mundial do teatro. Nos próximos dias assistiremos a muitas homenagens póstumas. Muitas apenas para que ele possa finalmente ser sepultado no esquecimento oficial pelos órgãos oficiosos da indústria cultural. Mas aqueles que, como nós, reconhecem no artista Augusto Boal o cidadão ousado, socialista e irreverente, o teatrólogo planetário, o libertário companheiro Boal sabemos que sua obra e sua utopia estão hoje disseminadas pelo mundo. Obrigado, Augusto Boal! (Lídice da Mata)
Fonte:Jornal A Tarde

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