quarta-feira, 3 de março de 2010

Istoé: Ciro Gomes confirma candidatura a presidência

Segundo a revista Istoé desta semana, O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) tem encontro marcado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para meados de março, mas o que deveria ser uma conversa decisiva poderá se tornar uma audiência meramente protocolar. Ciro garante já ter tomado a decisão sobre seu destino nas próximas eleições: “Sou candidato a presidente do Brasil”, disse ele em entrevista exclusiva à ISTOÉ. “O Brasil não está bem em termos absolutos e é importante explorar ao máximo as virtudes do sistema eleitoral de dois turnos para debater o futuro do País”, justifica o ex-ministro de Lula, que, apesar da crítica, se diz fiel ao presidente.
Istoé - O sr. é candidato a presidente da República?
Ciro Gomes -Sou candidato a presidente do Brasil. O que não é uma novidade para mim nem para ninguém. Já fui candidato duas vezes. Hoje considero que estou muito mais maduro, com a estrada percorrida. Completei 30 anos de experiência na vida pública. Perdi duas eleições para a Presidência e não disputei a terceira porque fui solidário com o presidente Lula na sequência daquela crise chamada de mensalão. Acredito que tenho uma contribuição a dar nesse debate.
Istoé -Então a conversa com Lula é para comunicar sua candidatura?
Ciro Gomes -Ele sabe que sou candidato. Nossa conversa antecipa cenários. À medida que o tempo passa, as profecias vão se transformando em percepção da realidade. E todos os passos que aconteceram nos últimos tempos só revelaram que minha profecia é mais próxima do real do que a dele. As pesquisas mostram que, sem meu nome, Serra vence no primeiro turno.
Istoé - O sr. tem dito que sua candidatura é interessante para a candidata do PT exatamente porque força a realização do segundo turno.
Ciro Gomes -Há uma questão aí, sobre o tipo de debate que teremos. Há uma natural vontade no presidente Lula de estabelecer uma eleição despolitizada. Uma eleição que choque a turma do Fernando Henrique contra a turma do Lula. Mas me preocupo gravemente com o prejuízo que seria uma eleição importante como essa – a primeira sem o Lula candidato – acontecer sem o debate do futuro, esquecendo-se que também serão renovados dois terços do Senado e 100% da Câmara. O Brasil não está bem em termos absolutos.
Istoé - Em que setores o País tem de avançar mais?
Ciro Gomes -De tanto repetir truísmos, a gente acabou não se comovendo mais. Mas o Brasil é o país que tem a pior distribuição de renda entre todas as economias organizadas do mundo. Está perdendo proporção de manufaturados em sua pauta de exportação, o que é um sintoma claro de desequilíbrio nas contas externas do País a médio prazo. Temos um padrão similar ao do mundo desenvolvido, mas pagamos essa conta com exportação de matérias-primas de baixo valor agregado. Essa conta não fecha. Há também a questão da infraestrutura.
Istoé - O sr. fará, então, um discurso de oposição?
Ciro Gomes -Não é um discurso de oposição. Sou aliado do governo Lula. Não tenho que fazer esforço para demonstrar isso. Agora, todo mundo é amigo do Lula. Eu era solidário ao Lula, porque considerava do interesse nacional, numa hora em que quase o derrubam. Ou que muitos dos seus atuais amigos atrapalhavam ou se esconderam. Mas uma coisa é ser aliado e outra coisa é ser puxa-saco, bajulador. Esse puxa-saquismo tem feito mal ao Lula.
Istoé -E se o presidente insistir que o sr. saia candidato ao governo de São Paulo?
Ciro Gomes -Ele não fará isso. O Lula tem sido de uma delicadeza e de um respeito muito grandes comigo de longa data. Eu era um jovem prefeito de Fortaleza em 1989, votei no Mario Covas no primeiro turno e no Lula no segundo turno. Desde então, nós temos uma relação de muito respeito. Mas hoje me incomoda a despolitização geral em que estão querendo transformar o processo. Mesmo a oposição está refugiada num oportunismo que vai fazer muito mal ao Brasil. O Serra, que foi a Dilma do Fernando Henrique, simula agora que também é amigo do Lula.
Istoé - O sr. acha que tem melhores condições do que Dilma de promover os avanços que considera necessários?
Ciro Gomes - Na política, você é a sua circunstância. O que só eu posso fazer é pôr em debate as coisas dizendo o seguinte: eu tenho afinidade com o avanço que o Lula representa. E não é afinidade retórica. Olha onde eu estava e o que fiz nos últimos oito anos em relação ao projeto que o Lula representa. Na hora dura, difícil. E eu posso falar do futuro, das imperfeições e das contradições. Por exemplo, o Lula aguenta as contradições derivadas da coalizão com o PMDB. Sou a favor de alianças. Dito isso, quero dizer que uma aliança precisa se explicar para que se formaliza e em que base se formaliza. A aliança PT/PMDB se destina apenas a conservar o poder. E tornou-se um roçado de escândalos.

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