segunda-feira, 1 de março de 2010

Usina Nuclear na Bahia - Um debate oportuno

Osvaldo Campos *
A anunciada decisão do Governo Wagner em entrar na disputa por uma das quatro Usinas Nucleares integrantes do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC II do Governo Federal, (duas no nordeste até 2030) abre uma excelente oportunidade para a discussão da questão da geração de energia elétrica através da fissão nuclear.
Lembremos que as usinas nucleares são usinas térmicas que usam o calor produzido na fissão para movimentar vapor de água, que, por sua vez, movimenta as turbinas em que se produz a eletricidade. Nos reatores utilizados aqui no Brasil, o combustível é o urânio enriquecido cerca de 3,5%. Faz-se necessário além do urânio enriquecido, agua em abundância, pois a termoelétrica nuclear utiliza o vapor dágua para produzir energia.
Pelo fato do Estado ser o detentor da maior reserva de urânio do Brasil, por dispor da maior faixa litorânea do país e deter a maior extensão do leito do rio São Francisco (agua em abundância), alem é claro da maior população e do maior consumo de energia elétrica do Nordeste, a opção pela Bahia é natural.
Com a confirmação do corajoso interesse do governador Jaques Wagner, principalmente sendo 2010 um ano de eleições, e o assunto ser “política e ambientalmente explosivo”, abre-se então a necessidade de uma discussão com a sociedade baiana, visto que o Artigo 22 Inciso 6º da Constituição do Estado impede a instalação de usina nuclear em território baiano.
Objetivando adequar a legislação estadual e possibilitar ao Estado da Bahia pleitear junto ao Governo Federal uma das usinas nucleares, foi apresentado pelo deputado Paulo Câmara do PDT, e assinada por 24 deputados da Assembléia, emenda constitucional transferindo para a União a competência de legislar sobre atividades nucleares (jornal A Tarde, 25/02 – Tempo Presente). Demonstrando que se faz necessário o amplo debate sobre a questão, nenhum dos deputados do PT (partido do governador), nem do DEM assinaram a emenda proposta.
Sobre a economicidade da geração de energia elétrica a partir das usinas núcleo - elétricas, segundo os estudos da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o custo da eletricidade nuclear de Angra 3 ficará em torno de R$ 138/MWh, abaixo dos custos de termoelétricas a gás e carvão importado, e abaixo dos custos da eletricidade eólica (R$ 240) e solar (R$ 1.798).
Chegamos então ao cerne da questão. O Brasil e a Bahia terão déficits crescentes de energia elétrica no futuro, com a manutenção do atual patamar de crescimento econômico. A energia elétrica obtida através do processamento do urânio enriquecido é economicamente vantajosa quando comparada ao custo de geração das termoelétricas e com potencial de suprimento em larga escala e economicidade superiores às energias eólicas e solares.
Apresenta-se então a questão ambiental como ponto central do debate a ser travado no futuro.
Segundo um dos maiores ambientalistas e preeminentes cientistas pensadores do nosso tempo, o britânico James Loveloc, a fissão nuclear proporciona uma fonte de energia alternativa relativamente barata para a produção de eletricidade e contribui para poupar as reservas de combustíveis fósseis como o petróleo, o gás natural e o carvão, que decrescem rapidamente.
Propõe que abracemos a ciência e a engenharia e não que a rejeitemos. Afirma ainda que o único caminho a trilhar pela civilização é o da alta tecnologia.
Nas palavras de Loveloc no seu livro Gaia – Cura para um planeta doente “Acho extraordinário que a única fonte de energia segura e comprovada, e cujas conseqüências globais são mínimas, a energia nuclear, seja tão prontamente rejeitada. Ela é hoje tão confiável quanto qualquer produto da engenharia humana, e de acordo com recente relatório do governo suíço, a que apresenta o melhor registro de segurança dentre todas as fontes de energia de grande escala”.
Loveloc adverte também para o crescente aquecimento global com a contínua queima de combustíveis fósseis e propõe a energia nuclear como melhor alternativa para a preservação do planeta.
Cita a França como principal referência na utilização em larga da geração de energia elétrica nuclear.
Como podemos constatar o amplo debate do assunto na Bahia, será não só necessário, como bastante oportuno.
*Osvaldo Campos Magalhães é membro do Diretório do PSB em Salvador
Engenheiro (Ufba79), Mestre em Administração (UFBA 95). Integra o Conselho de Infra-estrutura (COINFRA) e o Conselho Estratégico de Desenvolvimento Empresarial (CODE) da FIEB. Coordena o Núcleo de Estudos em Transportes, Logística e Tecnologias Sustentáveis – NELT e é o Editor do Blog Pensando Salvador do Futuro: http://www.osvaldocampos.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário